#Notícias

Calor humano no Prata e conhecimento em Antônio Dias

A Expedição Piracicaba passou por São Domingos do Prata na parte da manhã do dia 1 de junho e ainda chegou ao centro urbano de Antônio Dias para o almoço. Integrantes que navegaram trechos do rio a bordo de caiaques relataram a mudança de percepção quanto à saúde do rio, principalmente o forte cheiro de esgoto que ficou proeminente desde Nova Era, onde a expedição esteve no dia anterior.

Na praça central de São Domingos do Prata a expedição foi recepcionada por banda de música, feira de produtores da agricultura familiar, artesãos, produtores rurais e moradores do centro urbano. O prefeito José Alfredo de Castro Pereira esteve presente e salientou os frutos que a iniciativa pode gerar. Secretários municipais e representantes do legislativo também compareceram.

A secretário Municipal de Meio Ambiente, Adelson Vieira, que vem desenvolvendo um trabalho exemplar, destacou a Expedição como um divisor de águas para o início da recuperação da bacia.

Já em Antônio Dias, que comemorava 313 anos de fundação nesse 1º de junho, a comitiva também foi recebida por autoridades municipais, dentre elas o prefeito Benedito de Assis Lima. A data fez com que as ruas centrais estivessem tomadas por barraquinhas e com várias atrações preparadas para a noite de comemoração.

Durante a passagem da Expedição pela cidade, a equipe Registro colheu inúmeros depoimentos, disponíveis no site da Expedição, destacando a relação próxima da população com o Piracicaba, valendo destacar que a cidade conta com dois barramentos – Guilman-Amorim e Sá Carvalho.

Lagoa do Teobaldo

A comitiva também visitou na Lagoa do Teobaldo, uma formação singular que fica a cerca de mil metros de altitude e é abastecida apenas por águas subterrâneas.

Durante a passagem da Expedição pela lagoa, que terá suas águas analisadas pela equipe técnica da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), foi constatado um bem-sucedido processo de recuperação ambiental da área. O que antes era uma floresta de eucaliptos está se transformando em Mata Atlântica, uma retomada do bioma original.

A mudança foi decorrente da expedição realizada em 1999, que visitou a lagoa e intercedeu junto à Cenibra, proprietária das terras, para que fosse implantado um plano de recuperação da mata ciliar.

Guilman-Amorim

Durante visita à Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim, em Antônio Dias, a coordenadora técnica de meio ambiente da unidade, Sônia Baumgratz, trouxe detalhes sobre a formação e perfil do Rio Piracicaba, apresentou dados valiosos sobre a vazão do curso d’água a partir de registros dos últimos 80 anos e detalhou características como o carreamento de sedimentos ao longo do leito.

Na geomorfologia, o Rio Piracicaba é caracterizado como um rio típico de planalto, segundo a especialista. “Ele tem um desnível topográfico muito grande entre a cabeceira e a foz. Pelas condições geológicas, forma várias cachoeiras e desníveis bem acentuados que serviram inclusive para o aproveitamento de energia elétrica”, explica Baumgratz.
Ela cita estudos da década de 1960 que identificaram vários pontos com potencial hidrelétrico ao longo do curso do Piracicaba. “No entanto, as condições de ocupação da bacia se transformaram e hoje esse potencial não pode mais ser aproveitado, devido à expansão urbana e outros fatores. Trata-se de um rio com muita energia”, salienta a coordenadora.

Os traços do Piracicaba o levam a ser um curso d’água propenso à erosão, conforme explica Sônia Baumgratz. “Sabemos que o rio tem grande produção de sedimentos, seja por meio natural, seja pela intensificação das atividades antrópicas na bacia”, detalha. A erosão potencializada pelo homem recebe o nome técnico de erosão acelerada.

Vazão

Dados coletados ao longo de oito décadas mostram a variabilidade dos ciclos hidrológicos no Piracicaba. Foram constatados períodos secos e chuvosos bem definidos. “A percepção desses ciclos é que tem mudado ao longo do período por conta da ocupação da bacia. Mas, sem dúvida, temos que pensar sobre o que vem ocorrendo em termos de volume de outorgas, perdas de aquíferos, e fazer um estudo conjunto para não demonizar apenas um setor de produção”, ressalta Baumgratz.

A coordenadora de meio ambiente da usina Guilman-Amorim pontua alguns dos fatores de pressão sobre o Rio Piracicaba. Ela cita o despejo de esgoto sem tratamento, o desmatamento e a ocupação desordenada do solo, dentre outros.