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O “jeito” do Piracicaba

São Domingos do Prata e Antônio Dias, no Vale do Rio Doce, receberam a Expedição Piracicaba em seu sétimo dia de jornada, que trouxe o apoio das comunidades, colheu relatos de personagens da bacia e terminou com o compartilhamento de conhecimento sobre o rio. Durante visita à Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim, em Antônio Dias, a coordenadora técnica de meio ambiente da unidade, Sônia Baumgratz, trouxe detalhes sobre a formação e perfil do Rio Piracicaba, apresentou dados valiosos sobre a vazão do curso d’água a partir de registros dos últimos 80 anos e detalhou características como o carreamento de sedimentos ao longo do leito.
Na geomorfologia, o Rio Piracicaba é caracterizado como um rio típico de planalto, segundo a especialista. “Ele tem um desnível topográfico muito grande entre a cabeceira e a foz. Pelas condições geológicas, forma várias cachoeiras e desníveis bem acentuados que serviram inclusive para o aproveitamento de energia elétrica”, explica Baumgratz.
Ela cita estudos da década de 1960 que identificaram vários pontos com potencial hidrelétrico ao longo do curso do Piracicaba. “No entanto, as condições de ocupação da bacia se transformaram e hoje esse potencial não pode mais ser aproveitado, devido à expansão urbana e outros fatores. Trata-se de um rio com muita energia”, salienta a coordenadora.
Os traços do Piracicaba o levam a ser um curso d’água propenso à erosão, conforme explica Sônia Baumgratz. “Sabemos que o rio tem grande produção de sedimentos, seja por meio natural, seja pela intensificação das atividades antrópicas na bacia”, detalha. A erosão potencializada pelo homem recebe o nome técnico de erosão acelerada.
Vazão
Dados coletados ao longo de oito décadas mostram a variabilidade dos ciclos hidrológicos no Piracicaba. Foram constatados períodos secos e chuvosos bem definidos. “A percepção desses ciclos é que tem mudado ao longo dopo por conta da ocupação da bacia. Mas, sem dúvida, temos que pensar sobre o que vem ocorrendo em termos de volume de outorgas, perdas de aquíferos, e fazer um estudo conjunto para não demonizar apenas um setor de produção”, ressalta Baumgratz.
A coordenadora de meio ambiente da usina Guilman-Amorim pontua alguns dos fatores de pressão sobre o Rio Piracicaba. Ela cita o despejo de esgoto sem tratamento, o desmatamento e a ocupação desordenada do solo, dentre outros.
Peixe que para
Piracicaba quer dizer “rio onde o peixe para”. O batismo pelos indígenas que viviam nas proximidades da foz, onde há o encontro com o Rio Doce, decorre de uma grande depressão que impede os peixes de fazerem a piracema, a jornada rio acima para desova. Nesse ponto, grandes quantidades de espécimes se acumulavam, facilitando a captura por parte dos nativos.
Chegadas
Além da Usina Hidrelétrica Guilman-Amorim, a Expedição Piracicaba passou por São Domingos do Prata e pelo centro urbano de Antônio Dias. Integrantes que navegaram trechos do rio a bordo de caiaques relataram a mudança de percepção quanto à saúde do rio, principalmente o forte cheiro de esgoto que ficou proeminente desde Nova Era, onde a expedição esteve ontem, 31 de maio.
Na praça central de São Domingos do Prata a expedição foi recepcionada por banda de música, feira de produtores da agricultura familiar, artesãos, produtores rurais e moradores do centro urbano. O prefeito José Alfredo de Castro Pereira esteve presente e salientou os frutos que a iniciativa pode gerar. Secretários municipais e representantes do legislativo também compareceram.
Em Antônio Dias, que fez 313 anos hoje, 1º de junho, a comitiva também foi recebida por autoridades municipais, dentre elas o prefeito Benedito de Assis Lima. A data fez com que as ruas centrais estivessem tomadas por barraquinhas e com várias atrações preparadas para a noite de comemoração.
Confira entrevistas com personagens da bacia do Piracicaba, eventos, flagrantes, curiosidades e os bastidores da Expedição Piracicaba na seção de vídeos.