Histórias do rio marcam quinto dia
O quinto dia da Expedição Piracicaba foi marcado por histórias. Ao longo das paradas em Bom Jesus do Amparo, São Gonçalo do Rio Abaixo e Itabira, personagens cujos cursos de vida se conectam com o rio e com a causa ambiental compartilharam suas vivências. Como ocorreu até aqui em todas as paradas, a receptividade à expedição foi calorosa e motivadora.
Dona Ninica, 66 anos, moradora de São Gonçalo do Rio Abaixo, participa do grupo Lavadeiras da Prainha, grupo de mulheres que resgatou as cantigas que eram entoadas à beira do Rio Santa Bárbara e outros riachos durante a lida com a trouxa de roupa. “Eu lavei muita roupa no rio. Eu tinha 10 anos e ia com minha mãe lavar roupa, lavar vasilhas, ficava lá quase o dia todo. A gente bebia água do rio, era clarinha”, relembrou. O Santa Bárbara é o principal afluente do Rio Piracicaba.
O Lavadeiras da Prainha surgiu há 11 anos em São Gonçalo do Rio Abaixo, uma iniciativa da Associação Bem Viver da Terceira Idade (Abeviti). Além de proteger um patrimônio imaterial da cidade, o projeto funciona como uma atividade para dezenas de senhoras que têm suas histórias vinculadas às águas da região. Elas também participam de apresentações teatrais que representam essas memórias. “O rio significa muito pra gente. Hoje em dia não estão cuidando bem dele, não tem praia mais, é muito triste”, lamentou Dona Ninica.
Andorinha
Arcanjo Couto, empresário de 30 anos que vive em Itabira, resolveu desafiar o ditado “uma andorinha só não faz verão”. Ele transformou, praticamente sozinho, a realidade do Parque da Água Santa. O espaço de 12 mil metros quadrados, com árvores frondosas e habitado por pequenos animais, encontrava-se praticamente abandonado e era usado para uso de drogas, prostituição e outras práticas ilícitas. “Eu arregacei as mangas. Faço de tudo aqui: roçada, capina, varrição, plantio e poda. Estou satisfeito com o resultado, com a mudança que aconteceu aqui”, comemorou.
Há seis meses Arcanjo iniciou os trabalhos no Parque da Água Santa. Ele firmou uma parceria público-privada com a prefeitura de Itabira e, em troca dos serviços de conservação, foi autorizado a abrir uma floricultura e um café no local. “Estou muito motivado. Já são seis meses de bastante trabalho e espero que venham outros tantos pela frente”, ressaltou.
As entrevistas completas com Dona Ninica e Arcanjo Couto estão disponíveis na galeria de vídeos do site.
Mobilizações
A Expedição Piracicaba iniciou o dia em Bom Jesus do Amparo, em evento que reuniu o prefeito, Dario Ferreira Motta, a presidente da Câmara Legislativa, Edilene rosa Coelho Ferreira, secretários municipais e outros convidados. Dezenas de produtores rurais compareceram e receberam das mãos do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Piracicaba (CBH-Piracicaba), Flamínio Guerra, cadastros ambientais rurais (CAR) e diagnósticos ambientais das propriedades.
A entrega do CAR e do diagnóstico é parte do programa Rio Vivo, do CBH-Piracicaba, que prevê o cercamento de nascentes e áreas de proteção em três mil propriedades rurais na bacia, até 2024. O comitê optou por distribuir simbolicamente os documentos em conjunto com as atividades da expedição.
Em São Gonçalo do Rio Abaixo, os expedicionários foram recebidos pelo secretário de Meio Ambiente, Mário Neto, pelo presidente da Câmara, Flávio Silva de Oliveira, por estudantes da rede pública, grupos culturais como o Lavadeiras da Prainha e moradores. Produtores rurais também estiveram presentes. Houve distribuição de mudas, de sabão ecológico e mostras de reciclagem.
“Eu tenho uma avaliação muito positiva da Expedição, uma iniciativa pioneira na bacia. É uma ação que deveria se estender por todo o estado. Todos nós sabemos a importância de termos um meio ambiente saudável”, salientou Mário Neto.
Durante a tarde a Expedição Piracicaba ancorou em Itabira, onde um encontro reuniu estudantes da Universidade Federal de Itajubá (Unifei) e produtores rurais no Parque da Água Santa. A secretária municipal de Meio Ambiente, Priscila Braga Martins da Costa, também prestigiou o evento.
À noite, especialistas participaram do Fórum das Águas, no Clube Ativa, onde foram debatidas questões ligadas à gestão hídrica, saneamento e à sustentabilidade.