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Expedição descobre riquezas esquecidas

A Expedição Piracicaba percorreu locais de riquezas naturais e históricas únicas em seu oitavo dia de jornada. A comitiva iniciou as atividades na Lagoa do Teobaldo, em Antônio Dias, no Vale do Aço, uma formação singular que fica a cerca de mil metros de altitude e é abastecida apenas por águas subterrâneas. Em seguida a expedição rumou para a cidade de Marliéria, para acessar o Parque Estadual do Rio Doce (PERD), a primeira unidade de conservação de Minas Gerais, criada em 1944. Ambos os locais são reservas importantes da memória da bacia do Piracicaba, além da sabida importância ambiental que guardam.

A caminhada da ocupação portuguesa na região é bem interessante. Entre o final do século 18 e início do século 19, a produção das minas na região central de Minas Gerais estava em declínio. A Coroa portuguesa viu a necessidade de ampliar fronteiras em busca de novas opções econômicas. “Marliéria teve sua ocupação iniciada por volta de 1780, época em que as primeiras fazendas foram criadas no Vale do Piracicaba. Esse local foi ocupado primeiramente porque do outro lado, no Vale do Rio Doce, havia os botocudos, índios guerreiros que ganharam a fama de praticar o canibalismo”, relata Domingos Sávio de Castro, morador da cidade e um estudioso da história local.
Os botocudos, apesar de não serem amistosos, não eram canibais. Eles foram vítimas de uma fake news disseminada pela nobreza com o intuito de evitar a ocupação de uma área que facilitaria o acesso ao mar pelo Espírito Santo, dispensando a ida ao Rio de Janeiro. Isso levaria à perda de controle de Portugal sobre a produção de ouro e outras preciosidades mineradas na província.

Moinhos e Engenhos
A bacia do Rio Piracicaba era rica em água, além de apresentar como característica o desnível acentuado. Abundância hídrica e quedas d’água eram fundamentais para movimentar moinhos e engenhos, usados no processamento de alimentos como o milho e a cana. “Essa produção era levada por tropas de burros até o entreposto comercial de Dom Silvério, de onde partia para Mariana, Ouro Preto e adjacências”, explica Sávio. A cadeia econômica cresceu ao longo do século 19 e teve o apogeu no início do século 20.

A Visita
Em meados da década de 1930, dada a importância de Marliéria, a cidade recebeu a visita do Arcebispo de Mariana à época, Dom Helvécio Gomes de Oliveira, clérigo de influente que se encantou com a riqueza natural da região. Vendo o acelerado processo de destruição da Mata Atlântica que cobria o território, os moradores convenceram Dom Helvécio a intervir. “O bispo relatou o que viu no livro do tombo da diocese. Como tinha uma ascendência sobre os governantes muito grande, ele foi até eles e expôs a necessidade de a região ser salva”, conta Domingos Sávio.
Os esforços de Bispo Helvécio e da comunidade resultaram na criação do Parque Estadual do Rio Doce em 14 de julho de 1944, fruto do decreto assinado pelo então governador Benedito Valadares. O PERD é a maior mancha remanescente de Mata Atlântica de Minas Gerais, com 36 mil hectares. Outro ponto a se mencionar é que a região forma o terceiro maior sistema lacustre do país com cerca 170 lagos, dos quais 40 estão dentro do parque. O PERD é reconhecido pela Unesco como reserva da biosfera da Mata Atlântica no país e é tombado pela ONU como patrimônio natural da humanidade.

Risco
O Rio Piracicaba passa pelo Parque Estadual do Rio Doce ao longo de sete quilômetros, faceando os limites da unidade de conservação. Assim, toda a carga de poluição despejada no curso d’água ao longo da bacia impacta umas das maiores riquezas naturais do país.
Essa correlação mostra a necessidade de ações estruturadas e coordenadas em todas as bacias que compõem a Bacia Hidrográfica do Rio Doce. Da mesma forma que os ecossistemas funcionam em ciclos interdependentes, as soluções precisam ser construídas a partir dessa lógica.

Recuperação da Lagoa
Durante a passagem da Expedição pela Lagoa do Teobaldo, que terá suas águas analisadas pela equipe técnica da Universidade Federal de Itajubá (Unifei), foi constatado um bem-sucedido processo de recuperação ambiental da área. O que antes era uma floresta de eucaliptos está se transformando em Mata Atlântica, uma retomada do bioma original.
A mudança foi decorrente da expedição na bacia do Piracicaba realizada em 1999, que visitou a lagoa e intercedeu junto à Cenibra, proprietária das terras, para que fosse implantado um plano de recuperação da mata ciliar.
Há um cruzeiro às margens do espelho d’água na Lagoa do Teobaldo, datado de 1936. Os relatos indicam que ele foi erguido para marcar o local de uma missa realizada por Dom Helvécio, um bom sinal.

Recepção
A Expedição Piracicaba foi recepcionada em Marliéria nas dependências do PERD, em evento que contou com a presença do prefeito Geraldo Magela de Castro, proprietários rurais e convidados. Alunos da rede municipal de ensino fizeram uma apresentação musical baseada no toque de flautas e violão.
“Para nós é uma honra receber a expedição, um projeto muito bom para o Rio Piracicaba e para todos nós”, afirmou Castro.
Acompanhem nas galerias de vídeos e fotos conteúdos como entrevistas, flagrantes, curiosidades, bastidores da expedição e muito mais.